Apocalipse, Capítulo 13 Explicado (2ª parte)


Versículos 15-17 — “E foi-lhe 
concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta. E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na mão direita ou na testa, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.”

    Cria uma imagem da besta — Intimamente associada com esta operação de milagres está a criação de uma imagem à besta. O profeta relaciona assim as duas no versículo 14: “E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse na presença da besta, dizendo aos que habitam na Terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.” O engano levado a efeito pela operação de milagres prepara o caminho para o cumprimento desta cláusula relativa à formação de uma imagem à besta. 
    Para compreender o que seria uma imagem do papado, devemos primeiro fazer uma ideia definida do que constitui o próprio papado. O completo desenvolvimento da besta, ou o estabelecimento da supremacia papal, data da famosa carta de Justiniano, que se tornou efetiva em 538 d.C., constituindo o papa como cabeça da igreja e corregedor [154] dos hereges. O papado era uma igreja revestida de poder civil — um corpo eclesiástico com autoridade para punir todos os dissidentes com a confiscação de bens, prisão, torturas e morte. Que seria uma imagem do papado? Outra instituição eclesiástica revestida de poder civil. Como poderia tal imagem ser formada nos Estados Unidos? Ao investir as igrejas protestantes de poder para definir e punir a “heresia”, para impor seus dogmas com as penas da lei civil, não teríamos uma representação exata do papado durante os dias da sua supremacia? 
    Certamente que teríamos. Mas é possível essa eventualidade num país cujas pedras fundamentais são a liberdade civil e religiosa, e onde o direito de cada um à “vida, liberdade e busca da felicidade” foram reconhecidos através dos anos? Vamos examinar as evidências:
    Uma nação fundada na liberdade — A mão de Deus acompanhou a homens nobres e tementes a Deus que lançaram os fundamentos da nova nação. Disse o Honorável Henry D. Estabrook, falando perante a Associação de Advogados de Connecticut:

“Neste grande continente, que Deus manteve oculto em um pequeno mundo, aqui, com um novo céu e uma nova terra.onde haviam passado as coisas velhas, vieram pessoas de várias direções, mas unida de coração, alma e espírito com um mesmo propósito, e edificou um altar à liberdade, o primeiro que jamais se construiu ou que se pudesse construir, e o chamou: A Constituição dos Estados Unidos'” [155]

    Isso foi em 1787. O profeta viu que, por volta de 1798, subiria da terra a besta semelhante a um cordeiro. Certamente não se tratava de uma coincidência. George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, disse em seu discurso inaugural:

“Nenhum povo pode sentir-se mais obrigado que o dos Estados Unidos em reconhecer e adorar a Mão Invisível que dirige os assuntos humanos. Cada passo que tenha dado adiante para obter o caráter de nação independente parece ter sido distinguido por alguma mostra de atuação providencial.” [156]

    Em sua resposta a este notável discurso, o senado declarou:

“Quando contemplamos a conjunção de circunstâncias e a maravilhosa combinação de causas que prepararam gradualmente o povo deste país para a independência; quando contemplamos a origem, o progresso e o fim da recente guerra, que lhe deu um nome entre as nações da terra; sentimo-nos, com Vossa Excelência, induzidos inevitavelmente a reconhecer e adorar o grande Árbitro do Universo, por quem os impérios se levantam e caem.” [157]

    A luta contra a tirania religiosa — Aqueles homens não eram apenas piedosos, e sim sábios e previdentes. Quando certos grupos religiosos pediram que “o reconhecimento explícito do único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo” fosse incluído na Constituição, o pedido foi negado. Escrevendo sobre o incidente, Thomas Jefferson disse:

“A inserção foi recusada pela grande maioria, como prova de que desejava abranger com o manto de sua proteção o judeu e o gentio, o cristão e o maometano, o hindu e o infiel de toda denominação.” [158]

    Em 18 de fevereiro de 1874, a Comissão de Assuntos Judiciais da Câmara deu este relatório a um pedido semelhante:

“Como este país, cujo governo estava lançando então o fundamento, teria de ser a pátria dos oprimidos de todas as nações da terra, fossem cristãos ou pagãos, e compreendendo plenamente os perigos que a união entre a Igreja e o Estado impôs [no passado] a tantas nações do Velho Mundo, com grande unanimidade [concordaram] que não convinha pôr na Constituição ou forma de governo algo que pudesse ser interpretado como uma referência ou recomendação a qualquer credo religioso ou doutrina.” [159]

    A história é testemunha do fato de que esses grandes homens que lançaram as pedras fundamentais sobre as quais foram erguidos os Estados Unidos, olhavam com vistas ao futuro, com uma visão quase profética e puderam perceber os perigos que, um dia, a liberdade pessoal teria de enfrentar no país. Seus temores foram bem expressos por Thomas Jefferson:

“O espírito dos tempos pode alterar-se, e se alterará. Nossos governantes se tornarão corruptos, nosso povo, negligente. Um só vigilante pode iniciar a perseguição e homens melhores que ele podem ser suas vítimas. Nunca seria exagero repetir que o momento de fixar todo direito essencial sobre uma base legal, é enquanto nossos governantes são honestos e nós mesmos unidos. Desde o fim desta guerra iremos de alto a baixo. Não será então necessário a cada momento recorrer ao povo para ter apoio. Portanto, será esquecido, e seus direitos desprezados. [...] Portanto, as correntes que não fizermos cair ao terminar esta guerra, ficarão muito tempo conosco, e se tornarão cada vez mais pesadas, até que nossos direitos revivam ou expirem numa convulsão.” [160]

    Em 4 de julho de 1788, o juiz James Wilson pronunciou um discurso, indicando como já estavam operando os inimigos da liberdade:

“Os inimigos da liberdade são astutos e insidiosos. Uma falsificação rouba-lhe [à liberdade] sua investidura, imita suas maneiras, copia sua assinatura, toma seu nome. Mas o verdadeiro nome da enganadora é ‘autorização’. Tal é sua desfaçatez, que acusa a liberdade de impostora; e com audácia desavergonhada insistirá em que só ela é o verdadeiro personagem, e que só ela tem o respeito que tal personagem merece. Para os que estão indecisos e não tenham discernimento, que se deixem impressionar mais profundamente pela impudência que pelo mérito honesto, suas declarações com frequência têm sucesso. Ela exibe as honras da liberdade, e a própria liberdade é tratada como traidora e usurpadora. Mas em geral, essa atrevida impostora desempenha apenas um papel secundário. Embora ela apareça sozinha no cenário, seus movimentos são regidos pela obscura ambição, que fica sentada oculta atrás dos bastidores, e sabe que o despotismo, outro seu favorito, pode sempre seguir ao sucesso da autorização. Contra esses inimigos da liberdade, que agem em aliança, embora pareçam estar em grupos opostos, o patriota se manterá sempre em guarda e vigilante.” [161]

    Ameaçados pela dominação eclesiástica — Veja-se que no panorama dos eventos vindouros que passaram diante do profeta João, ele presenciou esta mesma mudança assombrosa na natureza da besta de dois chifres. Começou a falar como dragão e controlar o culto de seu povo “dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta”.
    A besta cuja “ferida mortal foi curada” é o papado. Era uma igreja que dominava o poder civil. Em outras palavras, era uma união da Igreja e o Estado, e impunha seus dogmas religiosos por meio do poder civil, sob pena de confisco dos bens, prisão e a morte. Uma imagem da besta seria outra organização eclesiástica investida de poder civil, outra união da Igreja e o Estado para impor pela lei os dogmas religiosos.
    Encontramos provas de que tal imagem há de se formar no fato de que já estão operando e têm estado operando com persistência durante anos grandes organizações protestantes influentes cujo fim é estabelecer e impor através de lei certas normas religiosas. Eis algumas delas: National Reform Association (Associação Pró-Reforma Nacional), International Reform Bureau (Departamento Pró-Reforma Internacional), Lord’s Day Alliance (Aliança Pró Dia do Senhor), Federal Council of the Churches of Christ in America (Concílio Federal das Igrejas de Cristo na América). Além disso, as sociedades católicas dos Estados Unidos, segundo sua tradição secular, procuram o mesmo objetivo.Finalmente, essas duas forças [catolicismo e protestantismo] estão destinadas a darem-se as mãos em um esforço comum. A National Reform Association confessa que sua meta é

“obter uma emenda na Constituição dos Estados Unidos [...] indicadora de que é uma nação cristã, e colocar todas as leis, instituições e usos cristãos de nosso governo numa base legal na lei fundamental do país.” [162]
   
    Acerca da questão de fazer dos Estados Unidos uma “nação cristã”, o bispo Earl Cranston, doutor em teologia da igreja metodista episcopal, fez as seguintes observações num discurso em Washington:


“Suponhamos que esta nação fosse declarada cristã por uma intervenção constitucional de fato. Que significaria? Qual das duas definições rivais do cristianismo seria a indicada pela palavra ‘cristã’? É claro, a causa protestante; porque sob nosso sistema as maiorias governam e a maioria dos estadunidenses é protestante. Muito bem. Mas suponhamos que, pelo acréscimo de certos territórios contíguos com doze milhões ou mais de católicos, a anexação de algumas ilhas com mais outros seis milhões, e a mesma proporção de imigrantes que agora, chegassem os católicos a ser a maioria dentro de alguns anos, quem duvida por um momento de que o papa reinante assumiria o controle da legislação e do governo? Diria com toda confiança lógica: ‘Esta é uma nação cristã. Assim se chamou desde o começo e se declarou faz muitos anos. Uma maioria definiu então o que era o cristianismo, agora uma maioria definirá o que é o cristianismo’. Essa ‘maioria’ seria o papa.” [163]

    Esta associação, organizada para realizar uma chamada “Reforma Nacional” não tem problemas em unir-se ao papado para conseguir sua finalidade de estabelecer uma religião nacional. Declara:

“Cordial e prazerosamente reconhecemos o fato de que nas repúblicas sul-americanas, na França e outros países europeus, os católicos romanos são os reconhecidos defensores do cristianismo nacional, e se opõem a todas as propostas que tendem a secularizá-los. [...] Sempre que estejam dispostos a cooperar para resistir ao progresso do ateísmo político, com prazer lhes daremos a mão. Em uma conferência mundial para promover o cristianismo nacional, que deveria ser celebrado há muito, muitos países poderiam ser representados apenas por católicos romanos.” [164]

    Levaremos agora em conta o objetivo que outras organizações confessam ter? Em uma história do International Reform Bureau, ele declara:

“O International Reform Bureau é o primeiro grupo político cristão estabelecido em nossa capital nacional para falar ao governo em favor de todas as denominações.” [165]

    Nas páginas 61 e 65 da obra já citada declara-se que a obtenção de leis que tornem obrigatória a observância do domingo é um dos principais objetivos desta e de outras organizações semelhantes. 
    Falando perante a Comissão Judicial do Senado dos Estados Unidos contra o projeto da Corte Suprema, o Prof. Theodore Graebner, do Colégio de Concórdia, San Louis, fez esta interessante observação:

“Já faz mais de cinquenta anos que a National Reform Association procurou [...] tornar cristã toda a educação pública, e com isso tornar Jesus Cristo o Rei da nação [...]. O movimento existe ainda hoje, e está trazendo à luz uma enorme quantidade de publicações com o fim de conseguir a adoção de uma emenda cristã.” [166]

    O verdadeiro objetivo dessa organização é impor a religião ao povo por meio de uma promulgação legal, obter uma lei dominical e regulamentar o cristianismo do povo.
    Um folheto publicado pela organização Lord’s Day Alliance [Aliança do Dia do Senhor], dos Estados Unidos, expõe seu objetivo:
“(1) Preservar o dia do Senhor [Domingo] para os Estados Unidos; 
 (2) obter uma aliança ativa em cada estado onde ainda não se tenha organizado; 
 (3) induzir o governo em geral, até onde for possível, a fim de que dê o exemplo na observância do dia de repouso.”
    Isto significa obter, até onde se puder, leis estaduais e nacionais que imponham a observância do domingo, o mesmo meio pelo qual a Igreja obteve o controle do Estado e pelo qual ambos se uniram nos séculos IV e V da era cristã.
    O Concílio Federal das Igrejas de Cristo nos Estados Unidos, que é a combinação mais poderosa e representativa das igrejas protestantes da nação, asseverou em seus começos que representava 18 organizações e 50.000.000 de membros, ao expor as razões de sua existência declarou: 

Que as grandes organizações cristãs de nosso país devem estar unidas [...] [ao tratar] questões como as referentes ao casamento e o divórcio, a profanação do dia de repouso, os males sociais (Federal Council of the Churches of Christ in America, “Report of the First Meeting of the Federal Council, Philadelphia, 1908”, p. 5, 6).

    Ao definir como se propunha agir com relação à profanação do dia de repouso, o Concílio declarava: 

Que se resista energicamente a todas as violações dos requerimentos à santidade do dia do Senhor, mediante a imprensa, as associações e aliança pró-domingo, e quanta legislação se possa obter para proteger e conservar este baluarte de nosso cristianismo americano (Idem, p. 103). (trechos retirados na versão Vida Plena)

    Observa-se que a obtenção de leis para impor a observância do domingo é um sinal evidente de todas estas organizações em seus esforços para “cristianizar” a nação. Participando desses esforços, muitos não veem que estão repudiando os princípios do cristianismo, do protestantismo e do governo dos Estados Unidos, e se colocam diretamente sob a mão daquele poder que criou o descanso dominical e obteve o controle do poder civil por meio da legislação dominical: o papado.
    Esse perigo foi claramente discernido pelos legisladores dos Estados Unidos há mais de um século. Em 1830, consideraram alguns requerimentos para proibir o transporte da correspondência e abertura dos correios aos domingos. Tais requerimentos deviam ser dirigidos à Comissão de Correios, nomeada pelo Congresso. Tal Comissão deu um relatório desfavorável que foi adotado e impresso por ordem do Senado dos Estados Unidos, e a Comissão foi liberada de toda consideração ulterior sobre o assunto. Acerca da Constituição, dizia:

“A Comissão buscou em vão nesse instrumento uma delegação de poder que autorizasse e este corpo para indagar e determinar que parte do tempo o Todo poderoso separou para os exercícios religiosos, ou ainda se fez tal coisa. [...]

A Constituição considera a consciência do judeu tão sagrada quanto a do cristão; e não dá mais autoridade para adotar uma medida que afeta a consciência de uma só pessoa que a de toda a comunidade. O representante que queira violar este princípio perderia seu caráter de delegado e a confiança de seus constituintes. Mesmo que o Congresso declarasse santo o primeiro dia da semana, isso não convenceria o judeu ou o sabatista. Tanto um como o outro ficariam descontentes, e por conseguinte não os converteria. [...] Se por um solene ato de legislação se define em um ponto a lei de Deus, ou se indica ao cidadão um dever religioso, pode-se com igual propriedade passar a definir todos os detalhes da obrigação religiosa, mesmo as cerimônias de culto, a dotação da igreja e o sustento do clero. 

Os que elaboraram a Constituição reconheciam o princípio eterno de que a relação do homem com o seu Deus está acima da legislação humana, e que os direitos de sua consciência são inalienáveis.” [167]

    Procuram estabelecer a justiça pela lei — É uma lástima que os dirigentes religiosos de nossa época já não sejam mais tão sensíveis aos perigos que espreitam em seu programa de conduzir o povo mediante a promulgação legal dos dogmas religiosos. 
    Não desprezamos os nobres serviços que as igrejas protestantes têm prestado à humanidade e ao mundo com a introdução e a defesa dos grandes princípios do protestantismo, a propagação do Evangelho e a defesa da causa da liberdade.
    Ninguém pense que queremos lançar sombra sobre o caráter dos homens empenhados nesta obra que consideramos. São homens das mais altas qualidades morais, sinceramente solícitos quanto ao bem-estar da nação, e procuram sinceramente deter ou eliminar os males que pesam na sociedade. Ninguém pode duvidar de que os seus esforços darão frutos em muitos aspectos. Desejamos-lhes todo o êxito possível em sua obra de fomentar a temperança, a eliminação da guerra, a proteção da juventude e outros nobres propósitos. Todos os crentes devem orar e trabalhar em favor dessas coisas.
    Por que então se deixam desviar a ponto de fazer algo contra o qual a Bíblia apresenta uma solene advertência? A razão jaz em que se afastaram do conselho que Deus dá em Sua Palavra, e estão procurando estabelecer à sua maneira a justiça e o reino de Deus na Terra. Têm desprezado as partes proféticas da Bíblia, pelas quais podem saber a etapa exata do conflito entre o reino de Satanás e o de Cristo que sua época alcançou, e como devem colaborar com a providência de Deus para os tempos em que vivem. Têm cortado sua relação com o Mestre divino e os meios que está empregando hoje para fazer avançar o Seu reino na Terra. Têm um conceito errôneo do reino futuro, e esperam um reino misturado com elementos terrestres, que será estabelecido por meios terrestres, como o voto, a legislação e a educação.
    Em tais circunstâncias não é surpreendente que trabalhem de modo contrário à providência de Deus. É um erro fatal não se deixar guiar pelas instruções da Palavra de Deus. Quanto maior o zelo de uma igreja quando se extraviou, tanto maior será o mal que causa.
    O apóstolo Paulo fala de um tempo em que os homens teriam “aparência de piedade”, mas negariam, ao mesmo tempo, sua eficácia.
    Lamentamos muito ver igrejas protestantes ativas no cumprimento deste quadro profético. Embora lhes falte o poder de Deus, conservam as formas exteriores do culto cristão. Tendo perdido o poder de Deus, cada vez mais recorrem ao Estado para lhes suprir o que falta. Toda a história testemunha que precisamente na proporção em que qualquer organização eclesiástica popular e abrangente perde o Espírito, a religião chega finalmente a ser parte do Estado. Assim ocorrerá com a formação da imagem da besta, pois a profecia declara: “E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta.” (Apocalipse 13:15).
    Se uma organização eclesiástica é formada, e o governo a legaliza e lhe dá poder para impor ao povo seus dogmas, que as diferentes denominações podem adotar como base de união, o que temos então? Exatamente o que a profecia representa: uma imagem da besta papal dotada de vida pela besta de dois chifres, para que fale e aja com poder.
    A marca da besta — A besta de dois chifres impõe aos seus súditos a marca da primeira besta. Foram introduzidos na profecia três poderes que devemos diferenciar cuidadosamente a fim de evitar confusão.
    A besta papal é o poder designado como “besta”, “a primeira besta”, “a besta que recebera a ferida da espada e vivia”, e “a besta cuja chaga mortal fora curada”. Estas expressões referem-se todas ao mesmo poder, e onde quer que ocorram nesta profecia referem-se exclusivamente ao papado.
    A besta de dois chifres é o poder introduzido em Apocalipse 13:11, e no restante da profecia é representado pelo pronome “ela”, e onde quer que este pronome surja, até o versículo 17 (com a possível exceção do versículo 16, que talvez se refira à imagem), refere-se invariavelmente à besta de dois chifres.
    A imagem da besta é chamada nos capítulos seguintes do Apocalipse “a imagem”, de sorte que não há perigo de confundi-la com qualquer outro agente. Os atos atribuídos à imagem são: falar e impor a adoração de si própria sob pena de morte. É o único decreto que a profecia menciona como imposto sob pena de morte. 
    A marca da besta é imposta pela besta de dois chifres, seja diretamente, seja por meio da imagem. A pena ligada à recusa de receber esta marca é o confisco de todos os privilégios sociais e a privação do direito de comprar e vender. A marca é a da besta papal. Contra esta adoração da besta e de sua imagem, e a recepção da sua marca, a mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-12 apresenta uma soleníssima e impressionante advertência.
    É, pois, este o acontecimento que, segundo esta profecia, havemos em breve de enfrentar. Certas organizações humanas, controladas e dirigidas pelo espírito do dragão, vão ordenar os homens a praticar os atos que constituem na realidade a adoração de um poder religioso apóstata e a recepção de sua marca. Caso se recusem a fazer isto, perderão os direitos de cidadania e ficarão fora da lei do país. Terão de fazer o que constitui a adoração da imagem da besta, ou perder a vida. Por outro lado, Deus envia uma mensagem pouco antes da crise que está iminente, como vemos em Apocalipse 14:9-12, declarando que todo o que fizer estas coisas “beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da Sua ira.” Aquele que recusar submeter-se a essas imposições dos poderes terrestres, irá expor-se às mais severas penas que seres humanos podem infligir, e aquele que se submeter, ficará exposto às mais terríveis ameaças da ira divina, que se encontram na Palavra de Deus. A questão da obediência, se será prestada a Deus ou aos homens, é um assunto a ser definido pelos indivíduos de hoje sob a mais pesada pressão, de ambos os lados, que jamais foi feita sobre qualquer geração.
    A adoração da besta e da sua imagem, e o recebimento de sua marca, deve ser alguma coisa que implica a maior ofensa que se pode cometer contra Deus, para atrair contra si tão severa ameaça. Esta é uma obra que, como já mostramos, ocorre nos últimos dias. Como Deus nos deu em Sua Palavra abundantes evidências para mostrar que estamos nos últimos dias, e para que ninguém tenha de ser apanhado de surpresa pelo dia do Senhor como por um ladrão, assim também Ele deve ternos dado os meios por que possamos determinar o que é a recepção da marca da besta, que Ele tão fortemente condenou, para que possamos evitar a terrível pena que certamente se seguirá à sua recepção. Deus não considera tão levianamente as esperanças e destinos humanos, que ameace um castigo extremamente terrível contra certo pecado, e ponha depois fora de nosso alcance compreender o que seja esse pecado, de modo que não tenhamos meios de nos precaver contra ele.
    Chamamos, portanto, agora, a atenção para esta pergunta importante: Que constitui a marca da besta? A figura de uma marca é tirada de um antigo costume. Thomas Newton diz:

“Entre os antigos era costume os servos receberem um sinal do seu senhor, e os soldados do seu general, e os que estavam consagrados a qualquer divindade particular. Esses sinais eram geralmente impressos na mão direita ou na testa, e consistiam em algum caráter hieroglífico, ou no nome expresso em letras vulgares, ou no nome disfarçado em letras numéricas, segundo a imaginação de quem mandava.” [168]

    Prideaux diz que Ptolomeu Filopater ordenou que todos os judeus que pretendessem ser registrados como cidadãos de Alexandria tivessem a forma de uma folha de hero (o emblema de seu deus Baco) impresso sobre eles com ferro em brasa, sob pena de morte. [169]
    A palavra usada para “marca” nesta profecia é [charagma], que significa “gravura, escultura, uma marca inscrita ou estampada”. Ocorre nove vezes no Novo Testamento, e, com a única exceção de Atos 17:29, refere-se sempre à marca da besta. Não vamos compreender, sem dúvida, que se trate de uma marca literal nessa profecia simbólica, mas a apresentação da marca literal, tal como era praticada em tempos antigos, é usada como figura para ilustrar certos atos que se realizarão em cumprimento desta profecia. E do modo como era antigamente usada a marca literal, ficamos sabendo algo sobre o seu significado na profecia, porque entre o símbolo e a coisa simbolizada deve haver semelhança ou ligação profunda. O sinal, usado literalmente, significava que a pessoa que o recebia era escrava ou reconhecia a autoridade, ou professava obediência à pessoa cujo sinal trazia. Assim, o sinal da besta, ou do papado, deve ser algum ato ou profissão, pelo qual se reconheça a autoridade daquele poder. Qual é ele?
    Características do poder papal — Naturalmente deve encontrar-se em alguma das características especiais do poder papal. Daniel, descrevendo aquele poder sob o símbolo de uma chifre pequeno, fala dele como se estivesse empenhado numa guerra especial contra Deus, destruindo os santos do Altíssimo e cuidando em mudar os tempos e a Lei. O profeta especifica particularmente este ponto: “Cuidará em mudar os tempos e a Lei.” Esta lei deve certamente ser a Lei do Altíssimo. Aplicá-la às leis humanas faria violência à linguagem do profeta. Mas aplique-se à Lei de Deus: “E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a Lei [de Deus]”, e tudo se torna coerente e lógico. O hebraico tem [dath], lei, e a Septuaginta [nomos], no singular, “a lei”, o que diretamente sugere a Lei de Deus. O papado tem feito mais do que simplesmente “cuidar” em mudar as leis humanas, mas as tem mudado a seu bel prazer. Tem anulado os decretos de reis e imperadores, e desligado súditos da obediência a seus legítimos soberanos. Tem introduzido o seu comprido braço nos negócios das nações e levado governadores a seus pés na mais abjeta humilhação. Contudo, o profeta vê maiores atos de presunção do que esses. Vê-o procurando fazer o que não conseguia, mas apenas cuidava realizar. Vê-o tentando um ato que nenhum homem nem qualquer combinação de homens jamais pôde levar a efeito, a saber, mudar a Lei do Altíssimo. Tenha-se isto em mente enquanto vemos o testemunho de outro autor sagrado sobre este mesmo ponto.
    O apóstolo Paulo fala do mesmo poder em 2 Tessalonicenses 2, e o descreve, na pessoa do papa, como o “homem do pecado”, e assentando-se “como Deus, no templo de Deus” isto é, a igreja, e exaltando-se “acima de tudo o que se chama Deus ou se adora”. Segundo isto, o papa apresenta-se como alguém a quem toda a igreja deve atender como autoridade em lugar de Deus. 
    Sugerimos ao leitor que pondere cuidadosamente a questão de como alguém ou um poder poderia exaltar-se acima de Deus. Procure através de toda a série de estratagemas humanos, até o auge do esforço humano. Através de que plano, ato ou pretensão esse usurpador poderia exaltar-se acima de Deus? Pode instituir qualquer número de cerimônias, recomendar qualquer forma de culto, exibir qualquer grau de poder, mas se fizer sentir ao povo que está obrigado a obedecer à Lei de Deus de preferência às suas, não tentará estar acima de Deus. Porém, ao publicar uma lei e a impor ao povo como se fosse a própria Lei de Deus, só então se fará igual a Deus.
    Mas há de fazer mais do que isto, há de tentar erguer-se acima de Deus. Para isso, há de promulgar uma lei que entre em choque com a Lei de Deus, e exigirá obediência à sua própria lei, fazendo os súditos pensarem que estão obedecendo à Lei de Deus. Não há outro modo possível de poder colocar-se na posição atribuída na profecia. Mas isto é simplesmente mudar a Lei de Deus, e se puder fazer com que esta mudança seja adotada pelo povo em lugar da Lei original, então ele estará acima de Deus, o Legislador. E é justamente isto o que Daniel diz que o poder representado pelo chifre pequeno faria.
    O papado há de realizar, pois, uma obra como esta, segundo a profecia, a qual não pode falhar. E quando isto suceder, que terá o povo? Duas leis que exigem obediência: uma, a Lei de Deus, tal como foi dada por Ele, como materialização da Sua vontade e expressão dos Seus requerimentos para as Suas criaturas; outra, — uma edição revista daquela lei, que provém do papa de Roma, expressando a sua vontade. E como se determinará a qual desses poderes o povo honra e adora? Pela lei que guardar. Se tem guardado a Lei de Deus como lhe foi dada, adora e obedece a Deus. Se obedece à lei mudada pelo papado, adora esse poder.
    Mais ainda: a profecia não diz que o chifre pequeno, o papado, poria de lado a Lei de Deus e daria uma inteiramente diferente. Isso não seria mudar a Lei, mas simplesmente dar uma nova. Ele apenas faria uma mudança, de maneira que a Lei que vem de Deus e a que vem do papado fossem semelhantes. As duas leis têm muitos pontos em comum. Mas nenhum dos preceitos que contêm em comum pode distinguir alguém como adorador de um poder de preferência ao outro. Se a Lei de Deus diz: “Não matarás”, e a lei dada pelo papado diz o mesmo, ninguém pode dizer, pela obediência a esse preceito, se uma pessoa obedece antes a Deus do que ao papa, ou antes ao papa do que a Deus. Mas quando se trata de um preceito que foi mudado, então aquele que observa esse preceito tal como originalmente foi dado por Deus, distingue-se por esse mesmo fato como adorador de Deus; e o que o guarda tal como foi mudado, fica marcado por essa obediência como seguidor do poder que fez a mudança. De nenhum outro modo podem diferenciar-se as duas classes de adoradores.
    Desta conclusão nenhum espírito sincero pode discordar, mas nesta conclusão temos uma resposta geral à pergunta: “Que significa a marca da besta?” A resposta é apenas esta: A marca [sinal] da besta é a mudança que a besta tentou fazer na Lei de Deus.”
    A mudança na lei de Deus — Vejamos agora que mudança foi essa. Pela Lei de Deus queremos fazer referência à Lei moral, a única Lei no Universo de obrigatoriedade imutável e perpétua. Em sua definição do termo “lei” segundo o sentido em que é quase universalmente usado no cristianismo, Webster diz: “A Lei moral está sumariamente contida no Decálogo, escrito pelo dedo de Deus em duas tábuas de pedra, entregues a Moisés no Monte Sinai.”
    Em nosso comentário sobre Daniel 7:25 acerca da predição de que o papado pensaria em “mudar os tempos e a Lei”, apresentamos provas do Catecismo Romano baseado na indiscutível autoridade do Concílio de Trento e publicado por ordem do Papa Pio V na imprensa do Vaticano em Roma, para demonstrar que a igreja tinha mudado o dia de repouso do sétimo para o primeiro dia da semana. Embora tal catecismo publique o quarto mandamento completo segundo se lê na Bíblia, e embora o mantenha completo na Bíblia católica oficial em latim, a Vulgata, e nas versões oficiais em outros idiomas, os catecismos usados para o ensino omitem todo o mandamento e no lugar dão a ordem de “guardar domingos e festas”. Em francês mandam “guardar os domingos seguindo a Deus devotamente”, enquanto em inglês costumam citar a primeira frase do mandamento divino: “Lembra-te do dia de sábado”, e logo acrescentam um extenso testemunho acerca de que a mudança do dia de repouso do sábado para o domingo foi feita “por autoridade da igreja católica e a tradição apostólica.” Diga-se o que for acerca do texto do Catecismo do Concílio de Trento e o da Bíblia católica romana que conservam todo o mandamento como está na Escritura, isso não tira o fato de que a prática dos prelados e sacerdotes é ensinar quando muito apenas a instituição do dia de repouso, e situá-la no primeiro dia da semana em vez de no sétimo, pela autoridade da igreja. 
    Tenha-se em mente que, segundo a profecia, ele cuidaria em mudar os tempos e a Lei. Isto claramente sugere a ideia de intenção e desígnio, e torna essas qualidades essenciais à mudança em questão. Mas acerca da omissão do segundo mandamento, os católicos dizem que ele está incluído no primeiro e por isso não deve contar-se como mandamento separado. Acerca do décimo pretendem que há uma distinção tão clara de ideias que requer dois mandamentos, e assim, fazem do não cobiçar a mulher do próximo o nono mandamento, e do não cobiçar os seus bens, o décimo.
    Em tudo isso pretendem apresentar os mandamentos exatamente como Deus queria que eles fossem compreendidos, e embora os possamos considerar como erros em sua interpretação dos mandamentos, não podemos apresentá-los como mudanças intencionais. Mas isso não sucede com o quarto mandamento. Acerca deste não pretendem que a sua versão seja igual à que é dada por Deus. Expressamente confessam aqui uma mudança, e também que a mudança foi feita pela igreja. A seguir algumas citações de catecismos posteriores ao de Trento e que possuem o imprimatur [170] eclesiástico.

Pergunta: Repita o terceiro mandamento. 
Resposta: Lembra-te do dia de repouso.
Pergunta: Que ordena o terceiro mandamento? 
Resposta: Que se santifique o domingo. [171]

    Outros dizem que a igreja católica mudou o dia de culto. Em um “catecismo de doutrina e prática cristã”, achamos o seguinte em relação com o terceiro mandamento:

Pergunta: “Que dia é o dia de repouso? 
Resposta: O sétimo dia, nosso sábado.
Pergunta: “Você guarda o sábado? 
Resposta: Não, guardamos o dia do Senhor.
Pergunta: “Qual é? 
Resposta: O primeiro dia: o domingo.
Pergunta: “Quem o mudou? 
Resposta: A Igreja Católica.” [172]

    No bem conhecido catecismo de Baltimore, encontramos esta explicação:

Pergunta: Qual é o terceiro mandamento? 
Resposta: O terceiro mandamento é: ‘Lembra-te do dia de repouso para o santificar.’
Pergunta: Que nos ordena o terceiro mandamento? 
Resposta: O terceiro mandamento nos ordena santificar o dia do Senhor [...]
Pergunta: O dia de repouso e o domingo são os mesmos dias?
Resposta: O dia de repouso e o domingo são diferentes. O dia de repouso é o sétimo dia da semana, e é o dia que se santificava sob a lei antiga; o domingo é o primeiro dia da semana, e é o dia que hoje se santifica sob a nova lei.
Pergunta: Por que nos ordena a Igreja que santifiquemos o domingo em vez do sábado?
Resposta: A Igreja nos ordena que santifiquemos o domingo em vez do sábado porque no domingo Cristo ressuscitou dos mortos, e num domingo mandou o Espírito Santo sobre os discípulos.” [173]

    Em outra obra de ensino religioso católico, lemos:

Pergunta: Que justificação é dada para guardar o domingo em vez do antigo dia de repouso, que era o sábado?
Resposta: Temos para isso a autoridade da Igreja Católica e a tradição apostólica.
Pergunta: Ensina a Escritura em alguma parte que se deve observar o domingo como dia de repouso?
Resposta: A Escritura nos ordena que atendamos à Igreja (Mateus 18:17; Lucas 10:16), e que nos apeguemos às tradições dos apóstolos (2 Tessalonicenses 2:15), mas as Escrituras não mencionam em particular esta mudança do dia de repouso.” [174]

    No Catecismo Doutrinal achamos um testemunho adicional:

Pergunta: Tem você outra maneira de provar que a Igreja tem poder para instituir festas como preceito?
Resposta: Se não tivesse tal poder, não poderia ter feito aquilo em que todos os autores religiosos modernos concordam com ela: não poderia ter substituído a observância do domingo — primeiro dia da semana —, em lugar do sábado, sétimo dia, mudança que não está autorizada na Escritura.” [175]

    Em um sumário de doutrina cristã achamos o seguinte testemunho:

Pergunta: Como você prova que a Igreja tem poder para ordenar festas e dias santos?
Resposta: Pelo próprio ato de mudar o sábado para o domingo, que os protestantes reconhecem; e, portanto, se contradizem ao guardar estritamente o domingo, enquanto que violam a maioria das outras festas ordenadas pela mesma Igreja.
Pergunta: Como você prova isso?
Resposta: Porque, ao observar o domingo, reconhecem o poder que a Igreja tem para ordenar festas, e mandar que as observem sob pena de pecado.” [176]

Em um catecismo explicado de modo simples, encontram-se as seguintes
perguntas e respostas:

Pergunta: Qual é o terceiro mandamento?
Resposta: O terceiro mandamento é: “Lembra-te de santificar o dia de repouso”.
Pergunta: Que nos ordena o terceiro mandamento?
Resposta: O terceiro mandamento nos ordena santificar o domingo. O dia de repouso dos judeus era o sábado; nós, os cristãos, santificamos o domingo. A Igreja, pelo poder que nosso Senhor lhe deu, mudou a observância do sábado para o domingo.
Fonte: Cônego Cafferata, The Catechism Simply Explained, p. 89.

    É isto o que o poder papal declara ter feito com relação ao quarto mandamento. Os católicos reconhecem claramente que não existe autorização bíblica para a mudança que fizeram, e sim que se baseia completamente na autoridade da igreja. Reclamam como prova ou marca da autoridade de sua igreja o “próprio ato ter mudado o sábado para o domingo”, e o apresentam como prova de seu poder sobre o assunto.
    “Mas” — dirá alguém — “eu supunha que Cristo tivesse mudado o dia de repouso.” Muitos pensam assim, porque assim foram ensinados. Só queremos lembrar a estes que de acordo com a profecia, a única mudança que jamais devia ocorrer na Lei de Deus ia ser feita pelo chifre pequeno de Daniel 7, o homem do pecado de 2 Tessalonicenses 2; e que a única mudança feita nessa Lei foi a mudança do dia de repouso. Agora, se Cristo fez esta mudança, então desempenhou o papel do poder blasfemo mencionado por Daniel e Paulo, mas esta é uma conclusão inaceitável para qualquer cristão.
    Por que alguns tentam provar que Cristo mudou o sábado? Quem o faz realiza uma tarefa que ninguém lhe agradecerá. O papa não lhe agradecerá, porque se for provado que Cristo fez esta mudança, então o papa perderia sua suposta autoridade e poder de fazer tais alterações antibíblicas. Nenhum protestante verdadeiramente esclarecido lhe agradecerá, porque, se conseguisse, apenas demonstraria que o papado não fez a obra que estava predito que faria e assim a profecia teria falhado e as Escrituras não seriam dignas de confiança. É melhor deixar o assunto como a profecia apresenta e reconhecer a veracidade da pretensão do papa.
    Quando uma pessoa é acusada de alguma obra, e se apresenta confessando que a fez, isso é geralmente considerado como suficiente para estabelecer o fato. Assim, quando a profecia afirma que certo poder há de mudar a Lei de Deus, e no devido tempo esse mesmo poder se levanta, faz a obra predita e abertamente declara tê-la feito, que necessidade nós temos de mais evidência? O mundo não devia esquecer que ocorreu a grande apostasia predita por Paulo; que o homem do pecado durante longos séculos teve quase o monopólio do ensino cristão no mundo; que o mistério da iniquidade lançou as trevas da sua sombra e os erros das suas doutrinas sobre quase toda a cristandade; e que dessa era de erros, trevas e corrupção é que saiu a teologia de nossos dias. Seria, pois, de estranhar que houvesse ainda algumas relíquias do passado a serem postas de lado antes de se completar a reforma?
    Alexandre Campbell, falando dos diferentes credos protestantes, diz:

“Todas elas retêm no seu seio — nas suas organizações eclesiásticas, culto, doutrinas e observâncias —, várias relíquias do papado. São quando muito uma reforma do papado, e uma reforma apenas parcial. Contudo, as doutrinas e tradições dos homens prejudicam o poder e progresso do Evangelho em suas mãos.” [177]

    A natureza da mudança que o chifre pequeno tentou efetuar na Lei de Deus é digna de nota. Fiel ao seu propósito de se exaltar acima de Deus, quis mudar o mandamento que, dentre todos os outros, é o mandamento fundamental da Lei, o que torna conhecido quem é o Legislador, e que contém a Sua assinatura como Rei. O quarto mandamento é tudo isso, e nenhum dos outros, está nessas condições. Os outros quatro, é verdade, contêm a palavra Deus, e três deles têm também a palavra “Senhor”. Mas quem é este Senhor Deus de quem eles falam? Sem o quarto mandamento é impossível dizê-lo, porque os idólatras de todos os graus aplicam estes termos aos numerosos objetos da sua adoração. Com o quarto mandamento indicando o Autor do Decálogo, as pretensões de todos os falsos deuses são anuladas de um só golpe, porque o Deus que aqui ordena a nossa adoração não é qualquer ser criado, mas o Ser que criou todas as coisas. O Autor da Terra e do mar, do Sol e da Lua, e de todo o exército de estrelas, o Mantenedor e Governador do Universo, é quem exige e pela Sua posição tem direito de pretender nossa suprema atenção de preferência a qualquer outro objeto. O mandamento que torna conhecidos esses fatos é, portanto, aquele mesmo que podemos supor que o poder designado como exaltando-se acima de Deus tentaria mudar. Deus deu o Sábado como um memorial de Si próprio, para lembrar semanalmente aos filhos dos homens a Sua obra na criação dos Céus e da Terra, uma grande barreira contra o ateísmo e a idolatria. É a assinatura e selo da Lei. Isso o papado, por seu ensino e prática, tirou do seu lugar e o substituiu por outra instituição, que a igreja apresenta como sinal de sua autoridade.
    A decisão entre o sábado e o domingo — Esta mudança do quarto mandamento deve, portanto, ser a mudança a que se refere a profecia, e o domingo deve ser a marca da besta. Alguns que há muito têm sido ensinados a considerar esta instituição com reverência, recuarão talvez com pouco menos do que sentimento de horror perante esta conclusão. Não temos espaço, nem é este, talvez, o lugar para tratar por extenso da questão do sábado, e de uma exposição da origem e natureza da observância do primeiro dia da semana. Sustentamos esta única posição: Se o sétimo dia continua sendo o sábado ordenado no quarto mandamento; se a observância do primeiro dia da semana não tem qualquer fundamento nas Escrituras; se esta observância foi introduzida como instituição cristã, e intencionalmente colocada em lugar do sábado do Decálogo por aquele poder que é simbolizado pela besta, e aí posta como insígnia e sinal do seu poder de legislar para a igreja, não será inevitavelmente a marca da besta? A resposta deve ser afirmativa.
    Quem recebe a marca da besta? — Poderá ainda dizer-se: Então todos os observadores do domingo têm a marca da besta? Todos os justos do passado que guardaram este dia têm a marca da besta? Lutero, Whitefield, os Wesleys e todos os que fizeram uma boa e nobre obra de reforma tinham a marca da besta? Todas as bênçãos que foram derramadas sobre as igrejas reformadas foram derramadas sobre as pessoas que tinham a marca da besta? E todos os cristãos que hoje guardam o domingo como dia de repouso, têm a marca da besta? Respondemos: Não! Lamentamos dizer que alguns que pretendem ensinar religião, embora fossem muitas vezes corrigidos, persistem em nos interpretar mal neste ponto. Nunca defendemos isso. Nunca o ensinamos. Nossas afirmações não levam a esse tipo de conclusão.
    Observemos: A marca e adoração da besta são impostos pela besta de dois chifres. A recepção da marca da besta é um ato específico que a besta de dois chifres há de levar a fazer. A mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14 é uma advertência misericordiosamente enviada com antecedência a fim de preparar o povo para o perigo vindouro. Não pode, portanto, haver adoração da besta, nem recepção da sua marca tal como a profecia indica até que seja imposta pela besta de dois chifres. Vimos que a intenção era essencial na mudança que o papado fez na Lei de Deus, para constituí-la a marca daquele poder. Em outras palavras, uma pessoa tem que adotar a mudança sabendo que ela é obra da besta e recebê-la sob a autoridade daquele poder, em oposição à ordem de Deus, antes que se possa dizer que recebeu a marca da besta.
    Mas como ficam os casos, acima mencionados, dos que guardaram o domingo no passado, e da maioria dos que o estão guardando hoje? Guardam-no eles como uma instituição do papado? Não. Decidiram eles entre este e o sábado do Senhor, conhecendo as exigências de cada um? Não. Por que motivo o guardaram ou ainda o guardam? Se entendem que estão guardando um mandamento de Deus, não podem ter a marca da besta. Seu procedimento é atribuível a um erro involuntariamente recebido da Igreja de Roma, não a um ato de adoração intencional.
    Mas como há de ser no futuro? A igreja que deve estar preparada para a segunda vinda de Cristo há de estar inteiramente livre de erros e corrupções papais. Por isso uma reforma há de ser feita na questão do sábado. O terceiro anjo de Apocalipse 14 proclama os mandamentos de Deus, levando os homens ao verdadeiro sábado em vez de ao falso. O dragão está irado, e por isso controla os governos ímpios da Terra e os induz a impor a autoridade do poder humano para fazer que sejam cumpridas as pretensões do homem do pecado. Então a questão a ser decidida fica claramente delineada perante o povo. A Lei de Deus reclama a guarda do verdadeiro dia de repouso; a lei da Igreja Católica, da igreja pseudo protestante e do país lhe pede que guarde o falso dia de repouso. Aos que recusam guardar o verdadeiro sábado, a mensagem ameaça com a ira de Deus não misturada; aos que recusam o falso, os governos terrestres ameaçam com perseguição e morte. Perante esse dilema, que fará aquele que se sujeita à exigência humana? Diz virtualmente a Deus: Conheço as Tuas ordens, mas não as obedecerei. Eu sei que o poder que me ordena a adorar é anticristão, mas eu me sujeito a ele para salvar minha vida. Renuncio a ser fiel a Ti, e curvo-me ao usurpador. Desde agora a besta é o objeto da minha adoração; sob o seu estandarte, em oposição à Tua autoridade, me alisto a partir de agora; a ela, em desafio às Tuas ordens, rendo a obediência de meu coração e minha vida. 
    Tal é o espírito que atuará nos corações dos adoradores da besta, um espírito que insulta ao Deus do Universo em Sua face, e só por falta de poder é impedido de abater o Seu governo e aniquilar o Seu trono. Será de admirar que Jeová pronuncie a mais terrível ameaça que Sua palavra contém contra um procedimento tão desafiante?
    A obra final — Vimos já o que constituiria uma imagem à besta, tal como a besta de dois chifres há de erguer, e também a probabilidade de que tal imagem em breve seja levantada nos Estados Unidos da América do Norte. Também vimos o que constitui a marca da besta, que há de ser imposta a todos. Uma organização eclesiástica composta de diferentes seitas do país, em aliança com o catolicismo romano, pela promulgação e imposição de uma lei civil para a observância do domingo, cumprirá o que a profecia apresenta com referência à imagem e à marca da besta. A profecia requer estes movimentos ou seus exatos equivalentes. A cadeia de provas que levam a estas conclusões é tão direta e definida que não se pode fugir a elas. São uma consequência clara e lógica das afirmações que apresentamos.
    Quando a aplicação de Apocalipse 13:11-17 aos Estados Unidos foi feita pela primeira vez, em 1850, foram tomadas essas posições acerca de uma união das igrejas e de um grande movimento dominical. Naquele tempo não havia indícios de que se levantaria tal questão. Mas ali estava a profecia. Os Estados Unidos tinham dado abundantes provas, por sua localização, pelo tempo e a maneira do seu surgimento, pelo seu caráter manifesto de que era o poder simbolizado pela besta de dois chifres. Não podia haver erro na conclusão de que era a própria nação a que se referia o símbolo. Mas ali estavam predições indicando uma união da Igreja e o Estado, e a imposição do dia de repouso papal como marca da besta. Não era pequeno ato de fé tomar posição naquele tempo em que os Estados Unidos adotavam uma política sem qualquer probabilidade aparente de fazer tal coisa.
    Os fundadores da república americana, ao elaborar suas leis orgânicas, nunca pretenderam que surgisse qualquer perturbação sobre qualquer questão de consciência. A Constituição Federal e a maioria das instituições dos estados contêm cláusulas que garantem a mais perfeita liberdade religiosa. Mas o desenvolvimento do movimento em favor das leis dominicais desde 1850 demonstra amplamente que a profecia pode cumprir-se apesar do muro de proteção que os pais fundadores da nação levantaram contra a intolerância.
    A profecia não especifica exatamente como se desenvolverá a tirania sobre as almas e os corpos dos homens. Pode provir de um homem ou um grupo de homens, políticos, religiosos ou de outro caráter. Mas domina a todos — pequenos e grandes. Controla as finanças, pois ricos e pobres sentem seu alcance. Rege a economia, pois ninguém pode comprar ou vender sem sua autorização e sua marca. Impõe a religião, porque obriga a todos, sob pena de morte, a adorarem de acordo com suas leis.
    Custa crer que a perseguição religiosa possa manchar a história de uma nação fundada sobre a liberdade para todos. Mas, desde que foi fundada, seus estadistas mais previdentes reconheceram que a tendência de impor os dogmas religiosos por lei civil é muito comum no homem, e tende a provocar perseguição ativa nos lugares mais inesperados. Honra a nação aquele que através da história teve nobres líderes que mantiveram em xeque essa tendência, cuja possível manifestação foi prevista pelos fundadores. Mas ninguém pode fechar os olhos para não ver que, ao lado desses nobres esforços, existiram certos dirigentes religiosos zelosos, porém mal encaminhados para impor à força usos e costumes religiosos.
    Há cerca de 50 anos que tem sido esperado e predito um período de perseguição. Começou agora, e está demonstrando assim que a aplicação da profecia tal como é apresentada nesta obra é correta; mas não se segue de maneira alguma que todos, e não pensemos que mesmo muitos, sejam mortos, embora se promulgue um decreto para este efeito; porque, como profeta noutro lugar declara: Deus não abandona o seu povo neste terrível conflito, mas concede-lhe uma completa vitória sobre a besta, sua imagem, seu sinal e número do seu nome. Apocalipse 15:2. Lemos ainda, acerca deste poder terrestre, que fez com que todos recebessem um sinal em sua mão direita ou em suas testas; todavia o capitulo 20:4 diz que o povo de Deus não recebe o sinal, nem adora a imagem. Se, pois “faria” que todos recebessem o sinal, e todavia não o recebem todos atualmente, de igual modo o fazer que sejam mortos todos os que não adorem a imagem não significa necessariamente que suas vidas hajam de ser atualmente tiradas. 
    Mas como pode ser isto? Resposta: Está evidente que sobre aquela regra de interpretação segundo o qual os verbos de ação as vezes significam apenas a vontade e o esforço para realizar a ação em questão, e não o comprimento atual da coisa em questão. O falecido Jorge Bush, professor de Hebraico e Literatura Oriental da Universidade de Nova Iorque, torna claro este assunto. Em suas notas sobre Êxodo 7:11, ele diz:

É uma regra de interpretação de uso frequente na exposição dos sagrados escritos, que os verbos de ação por vezes significam apenas a vontade ou o esforço para realizar a ação em questão. Assim em Ezequiel 24:13 “Purificarei e tu não te purificaste”, isto é: Esforcei-me, empreguei os meios, estive em cuidados para te purificar. João 5:44: “Como podeis vós crer que recebeis honra uns dos outros?”, isto é, procurais receber. Romanos 2:4: “A benignidade de Deus te leva ao arrependimento”, isto é, procura ou tende, levar-te. Amós 9:3: “E se ocultarem aos Meus olhos no fundo do mar”; isto é, ainda que ainda que desejam ocultar-se. 1 Coríntios 10:33: “Agrado a todos”, isto é, procuro agradar. Gálatas 5:4: “Vós os que vos justificais pela lei”, isto é, que procurai justificar-vos. Salmos 69:4: “Aqueles que me destroem Apocalipse 13 — A Secular Luta Pela Liberdade Religiosa | 397 são poderosos”, isto é, que procuram destruir-me, como se lê na versão inglesa. Atos 7:26: “E levou-os à paz,” isto é, desejou e esforçou-se; ou, na versão inglesa, “quis levá-los à paz”.

    O mesmo se dá na passagem que está diante de nós. Faz que todos recebam um sinal e que sejam mortos todos os que não adorarem a imagem; isto é, querem, propõem-se, esforçam-se por fazer isso. Faz este decreto; promulga esta lei, mas não é capaz de executá-la; porque Deus se interpõe em favor do seu povo; e então os que guardaram a palavra da paciência de Cristo são guardados de cair na hora da tentação, segundo Apocalipse 3:10; então os que fizeram de Deus o seu refúgio são guardados de todo o mal, e nenhuma praga se aproxima do local de sua habitação, segundo o Salmo 91:9-10; então todos os que foram achados escritos no livro serão libertos, segundo Daniel 12:1; e, vencedores da besta e da sua imagem, serão remidos dentre os homens, e elevarão um cântico de triunfo perante o trono de Deus, segundo Apocalipse 14:2-4. 
    Pode ainda objetar-se: Sois demasiado crédulos em supor que as massas do nosso povo, grande parte da qual é indiferente ou inteiramente oposto às pretensões da religião, possam ser levadas a favorecer tanto a observância religiosa do Domingo, que se promulgue uma lei geral em seu favor. Respondemos: A profecia tem de ser cumprida, e se a profecia exigir esta revolução, ela realizar-se-á. (trechos retirados pela editora Vida Plena)
    A profecia prediz que virá um período de perseguição. A besta de dois chifres obriga a todos a receber sua marca e faz matar a todos que não queiram adorar a imagem, quer dizer, ela quer voluntariamente fazer isto e se esforça nesta direção. Faz esta promulgação da lei. Mas isto não quer dizer que todos serão mortos, nem mesmo cremos que serão muitos. Deus intervirá em favor do Seu povo. Os que guardaram a palavra da paciência de Cristo serão guardados de cair nessa hora da tentação (Apocalipse 3:10). Os que fizeram de Deus o seu refúgio serão protegidos de todo mal. (Salmos 91:9 e 10). Todos os que estão escritos no livro serão libertados (Daniel 12:1). Como vencedores da besta e sua imagem, serão remidos dentre os homens, e elevarão um cântico de triunfo diante do trono de Deus. (Apocalipse 14:2-4).

Versículo 18 — “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.”

    O número do seu nome — O número da besta, diz a profecia, “é número de homem.” Se deve ser originário de um nome ou título, é natural concluir que este deve ser o nome ou título de alguma pessoa especial ou representativa. A expressão mais plausível que a nosso ver sugere o número da besta, é um dos títulos aplicados ao papa de Roma. Esse título é o seguinte: VICARIUS FILII DEI, [Vigário do Filho de Deus]. É digno de nota que a versão da Bíblia de Douay [178] traz o seguinte comentário sobre Apocalipse 13:18: “As letras numéricas do seu nome compõem este número”. Tirando desse título as letras usadas como numerais romanos temos:

Forma reduzida
V = 5; 
I = 1; 
C = 100; 
I = 1; 
U (antigamente, V) = 5; 
I = 1; 
D = 500; 
I = 1. 


Somando estes números temos 666.

    Tem-se argumentado que o título dos papas era para ser considerado de acordo com o valor que os gregos atribuíam às letras, visto que João escreveu em grego, mas como o título aparece em latim, e o latim é a língua oficial da Igreja de Roma, bem como da Vulgata, a Bíblia adotada por ela, usar como base os valores do alfabeto grego anularia, certamente, o valor numérico daquele título escrito em sua própria língua nativa — a língua oficial do Império Romano. O razoável é que o título em latim revele seus valores numéricos em latim, e não em grego. Quanto à prática de representar os nomes por números, lemos: “Era um método praticado entre os antigos o de representar os nomes por números.” [179]

“Representar números por letras do alfabeto deu origem à prática entre os antigos de representar nomes também por números. Há vários exemplos disso nos escritos de gentios, judeus e cristãos.” [180] 
“Era um método praticado entre os antigos, o de designar os nomes por números. Por exemplo, o nome de Tot, o Mercúrio dos egípcios, é indicado pelo número 1.218 [...] Tem sido o método usual em todas as dispensações de Deus, que o Espírito Santo adapte suas expressões aos costumes, modas e hábitos de uso corrente nas eras da História. Portanto, como esta arte e mistério dos números era tão comum entre os antigos, não é de se estranhar que a chave para se descobrir a identidade da besta estivesse oculta em um código numérico, o qual é 666.” [181]

    Este título, VICARIUS FILII DEI, ou outra forma equivalente [182], tem aparecido durante séculos com tanta frequência na literatura e rituais católicos romanos que quase não seria preciso acrescentar outras provas de sua validade e importância. Outras variações do título são: Vigário de Cristo, Vigário de Jesus Cristo, Vigário de Deus. [183] Uma citação do Cardeal Manning, ilustra as várias formas desse título:

“De igual modo dizem agora: ‘Vejam esta Igreja Católica, esta igreja de Deus, insignificante e fraca, rejeitada pelas próprias nações chamadas católicas. Existe França católica, Alemanha católica e Itália católica, todas permitindo essa desacreditada invenção do poder temporal do Vigário de Jesus Cristo.’ Então, porque a Igreja parece fraca, e o Vigário do Filho de Deus [VICARIVS FILII DEI] está revivendo a Paixão de seu Mestre sobre a Terra, somos caluniados e desviamos dEle o nosso rosto.”[184]

    Muitas outras variações desse título são usadas em outros lugares no mesmo livro. Em anos recentes a validade deste título tem sido questionada, mas permanecem evidências históricas de que ele serviu para apoiar a autoridade dos papas ao construírem eles sua vasta supremacia temporal durante o apogeu do romanismo na Idade Média, e para manter sua autoridade espiritual até hoje.O título específico VICARIUS FILII DEI apareceu por volta dos anos 752-774 num documento histórico conhecido como “Doação de Constantino”. Embora mais tarde tenha sido provado que este documento foi escrito por outra pessoa e assinado com o nome de Constantino, o Grande, para dar-lhe o peso da autoridade real, de acordo com um costume nos tempos medievais, ainda assim a chamada Doação de Constantino foi usada como válida por pelo menos nove papas num período de sete séculos para estabelecer a supremacia espiritual ou temporal dos bispos de Roma.
    O próprio título é uma invenção; foi forjado para designar a posição de Pedro como o primeiro papa em harmonia com a bem conhecida pretensão da Igreja Católica Romana de que as palavras de Jesus registradas em Mateus 16:18 e 19 conferiram a Pedro o primeiro bispado da igreja — ponto de vista que os protestantes jamais aceitaram — e que o bispado passou a seus sucessores no trono papal, como está declarado na Doação de Constantino e é mantido pela igreja até hoje.[185]
    O documento empregando o título foi confirmado por um concílio de igreja, diz Binius, alto dignitário católico romano de Cologne, citado por Labbé e Cossart. [186] Foi incorporado na lei canônica católica romana por Grassiano, e quando esta última obra foi revisada e publicada, com o endosso do Papa Gregório XIII, o título foi conservado [187]. Quando Lucius Ferraris escreveu sua esmerada obra teológica em 1755, colocou sob o verbete “Papa”, o título VICARIUS FILII DEI e citou a lei canônica revisada como autoridade. Novamente, quando a obra de Ferraris foi revisada, ampliada e publicada em Roma, em 1890, o documento e título ainda foram conservados. [188] Acerca da obra teológica de Ferraris, citada acima, a Catholic Encyclopedia diz que “permanecerá sempre como preciosa mina de informação.” [189] Citamos o texto em latim do documento Doação de Constantino: “Ut sicut Beatus Petrus in terris VICARIVS FILII DEI fuit constitutus, ita et Pontífices eius sucessores in terris principatus potestatem amphius, quam terrenae imperialis nostrae serenitatis mansuetudo habere videtur.” Uma tradução livre do Professor Edwin Lee Johnson, professor de latim e grego na Universidade Vanderbilt reza:

“Assim como o bem-aventurado Pedro foi nomeado sobre a Terra Vigário do Filho de Deus, semelhantemente os pontífices, seus sucessores, mantêm sobre a Terra o governo principal mais do que Sua Serena Alteza Imperial.”(trechos acrescentados pele editora Vida Plena

    Assim termina o capítulo 13, deixando o povo de Deus diante dos poderes da Terra em disposição hostil contra ele, e os decretos de morte e banimento da sociedade sobre ele por ter aderido aos mandamentos de Deus. No tempo especificado, o espiritismo estará realizando as suas mais imponentes maravilhas, enganando todo o mundo, exceto os eleitos (Mateus 24:24; 2 Tessalonicenses 2:8-12). Esta será “a hora da tentação”, que há de vir, como prova final, sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na Terra, segundo o mencionado em Apocalipse 3:10.
    O que está em jogo neste conflito? Esta importante pergunta não fica sem resposta. Os primeiros cinco versículos do capítulo seguinte (14) completam a cadeia desta profecia e revelam o glorioso triunfo dos campeões da verdade.

    Confira aqui  a versão original de Uriah Smith do verso 18 --> O sinal da besta

Referências bibliográficas: 

[154] Corregedor: Magistrado que tem jurisdição sobre todos os outros juízes de uma comarca, e que tem a função de fiscalizar a distribuição da justiça, o exercício da advocacia e o andamento dos serviços forenses.
[155] State Bar Association of Connecticut, Annual Report, 1916, p. 73. [Esta fonte não consta no livro original, mas foi acrescentada].
[156] Annals of Congress, vol. 1, p. 28.
[157] Ibidem, p. 32.
[158] The Writings of Thomas Jefferson, vol. 1, p. 45.
[159] United States House Report, Congresso 43, 1ª sessão, Nº 143.
[160] Notes on Virginia, question 17, The Writings of Thomas Jefferson, vol. 8, p. 402.
[161] The Works of the Honorable James Wilson, vol. 3, p. 307.
[162] MCALLISTER, David. The National Reform Movement, Its History and Principles, p. 16, Constitution of the National Reform Association, art. 2.
[163] The Church and the Government, p. 7.
[164] Christian Statesman, 11 de dezembro de 1844, p. 2.
[165] History of the International Reform Bureau, p. 2.
[166] U. S. Senate Judiciary Committee Hearings, “Reorganization of the Federal Judiciary”, parte 3, p. 681.
[167] Correio Dominical, em U. S. House Report, vol. 2, Nº 271, pp. 1-4.
[168] NEWTON, Thomas. Dissertations on the Prophecies, vol. 3, p. 241.
[169] Prideaux’s Connection, vol. 2, p. 78.
[170] Imprimatur: [lê-se imprimátur] é uma declaração oficial da Igreja Católica, a qual afirma e garante que um trabalho literário ou similar não vai contra as ideias da igreja e que é uma boa leitura para qualquer católico. Em latim, imprimatur significa “deixem-no ser impresso”. Antes do Imprimatur, que é dado por um bispo, passa-se pelo censor da diocese, que dá o Nihil obstat (nada contra), e, se o autor do livro for membro de uma Ordem, o Superior dá, antes do censor, o Imprimi potest (pode ser impresso). Sendo, pois, esta a sequência: Imprimi Potest, Nihil Obstat e, então, o Imprimatur. — Disponível em: < http://www.vatican.va/archive/ESL0020/_P2O.HTM> Acesso em 16 set. 2015.
[171] JAMES, Butler. Catechism, p. 34.
[172] BELLORD, James. A New Catechism of Christian Doctrine and Practice, pp. 86, 87.
[173] A Catechism of Christian Doctrine, Nº 2, preparado por ordem do terceiro Concílio Plenário de Baltimore, p. 65.
[174] CHALLONER, Ricardo. The Catholic Christian Instructed, p. 202.
[175] KEENAN, Stephen. A Doctrinal Catechism, p. 174.
[176] TUBERVILLE, Henrique. An Abridgment of the Christian Doctrine, p. 58.
[177] CAMPBELL, Alexandre. Christian Baptism, p. 15.
[178] Douay Rheims Bible — uma tradução da Bíblia da vulgata latina para o inglês. Foi traduzida em 1899. É uma Bíblia católica.
[179] HENRY, Matthew. Commentary, vol. 3, p. 1065, Comments on Revelation 13:18.
[180] CLARK, Adam. Commentary on the New Testament, vol. 2, p. 1025. Comments on Revelation 13:18.
[181] NEWTON, Thomas. Dissertations on the Prophecies, vol. 3, pp. 298, 299.
[182] Outras formas equivalentes a VICARIUS [VICARIVS] FILII DEI são: GENERALIS DEI IN TERRIS e LATINUS [LATINVS] REX SACERDOS. Quaisquer deles resultam no número 666 ao lhes ser aplicada a metodologia numérica do primeiro título.
[183] O termo vigário significa “substituto”.
[184] MANNING, Cardinal. The Temporal Power of the Vicar of Jesus Christ, pp. 140, 141 [grifo acrescentado pelo autor; colchetes, pelo Editor].
[185] COLEMAN, Christopher. Constantine, the Great and Christianity, p. 178.
[186] Sacrosancta Concilia, vol. 1, col. 1539-1541 d.C.
[187] Corpus Juris Canonici, Lyons, 1622.
[188] FERRARIS, Lucius. Prompta Bibliotheca, [Roma, 1890] vol. 6, p. 43.
[189] Catholic Encyclopedia, 1913, vol. 6, p. 49, verbete “Lucius Ferraris”. cristãos que hoje guardam o domingo como dia de repouso, têm a marca da besta? Respondemos: Não! Lamentamos dizer que alguns que pretendem ensinar religião, embora fossem muitas vezes corrigidos, persistem em nos interpretar mal neste ponto. Nunca defendemos isso. Nunca o ensinamos. Nossas afirmações não levam a esse tipo de conclusão.

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